As relações entre velhas e novas mídias sempre existiram, mas parece que estamos presenciando um momento curioso da história das tecnologias de reprodutibilidade técnica das imagens em que a produção de registros feitos para redes sociais estão se misturando com essa velharia que é o cinema. E isso acontece de várias formas, como vimos nas discussões da Mostra de Tiradentes em 2022, cuja edição tematizou a transformação do cinema por meio do contato com outras mídias.
Melhor de 3 é bom para pensar essas tranças entre o feed e o ecrã, uma vez que o curta inventa a partir de imagens do rolo de câmera do celular. A estratégia fílmica principal do filme é a deformação - ainda que juvenil - de registros de viagens do realizador, que as narra em primeira pessoa. As figuras humanas são (re)animadas em stop motion e seus rostos são cobertos por máscaras digitais à semelhança de figurinhas de aplicativos de mensagem ou emojis em redes sociais.
As memórias se transformam em pequenos contos na armação que o filme constrói na montagem. Historinhas de viagem que, apesar de aventurosas, carregam uma brisa melancólica.
Algo que se nota no curta é o desejo de elaborar, através do cinema, aqueles sentimentos confusos que ficam depois de viagens marcantes. Remexendo arquivos pessoais que parecem causar tremores no realizador, o realizador (re)monta uma peça feita de lascas de memória que não foram para o feed e nem para os stories. E tudo termina no mar.
Este texto crítico foi escrito por João Paulo Campos, crítico e pesquisador, para a obra "Melhor de Três" (Fábio Narciso, Brasil, 2024), exibido em 24 de fevereiro de 2024, na programação do Prêmio Humberto Mauro.
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